O barco é o mesmo. E?

Começo este texto assumindo, desde já, que não tenho uma resposta concreta para a pergunta que ficou a pairar no final do texto anterior.

Apesar de afirmar convictamente que sim, pedimos pelo que está a acontecer, não tenho como te enumerar os motivos exatos pelos quais todos nós nos estamos a deparar com esta realidade.

E é precisamente este último ponto que, quanto a mim e por muito estranho que possa parecer, é um dos mais interessantes face à atual conjuntura: trata-se de algo que está a tocar a todos. Sem exceção.

Tal como refere a expressão com a qual já me cruzei algumas vezes por estes dias, e se calhar tu também, “estamos todos no mesmo barco”.

Porém, será que a viagem tem de ser igual para todos? Melhor ainda: será que há mais-valia na possibilidade de estarem todos a usufruir de uma experiência de viagem que seja exatamente igual?

E entendo que o que se segue possa levar a crer que me estou desviar da rota que vinha a ficar definida – não estou e as pecinhas deste puzzle acabarão por encaixar (se bem que, não necessariamente neste texto) – mas, por agora, consideremos efetivamente um barco

Imagina um barco no qual viaja um número substancial de pessoas. Não precisa de ser uma embarcação muito grande, nem de ter a lotação esgotada. Também não há aqui necessidade de fazer distinção entre tripulação e passageiros. Vamos apenas ter em conta um grupo de pessoas (provavelmente algum clandestino 🙂 ), de diversas idades, dentro de um barco a navegar, enquanto vão a observar a paisagem e a elaborar ideias, imagens – quadros mentais, digamos assim – sobre aquilo que as rodeia.

Desta forma, não há qualquer dúvida de que o cenário é o mesmo para todos os presentes. Certo? Estão dentro do mesmo barco, a velocidade a que ele segue também é igual para todos, assim como o mar e a restante paisagem envolvente.

No entanto, mesmo reconhecendo a igualdade das condições será que, nas suas observações, todas as pessoas formam a mesma ideia sobre aquilo que as rodeia?

Imagina-te a parar o movimento desse barco, de modo a que cada pessoa fique estática no seguimento do movimento que estava a desenvolver (como às vezes vimos nos filmes). Imagina ainda que, neste instante de pura imobilidade, tu consegues entrar no barco e recolher os quadros que, mediante os dados captados pelo seu campo de observação, cada pessoa tinha acabado de elaborar.

Agora que estás na posse de todos os quadros, e vais poder apreciá-los um a um, tendo em conta que o cenário era igual para todas as pessoas, o que achas que vai acontecer?

Parece-te que vais encontrar o mesmo tipo de imagem em todos? Ou será que vais obter um conjunto de imagens tão diversificadas, que o melhor a fazer seria mesmo organizar toda uma exposição?

Não sei para onde tenderá a tua resposta mas, palpita-me que há a possibilidade de estares com um novo negócio em mãos. É bem capaz que a quantidade de imagens diferentes seja mais do que suficiente para preencher os lugares de exposição numa bela galeria. Algo que, aliás, me inspira a próxima questão.

Que exposição te iria entusiasmar mais ao visitar: aquela que tem a mesma imagem em todos os quadros ou aquela que tem imagens diferentes em cada quadro?

E como há características que nos são transversais creio que é altamente elevada a hipótese de, todos os que por aqui passarem, considerarem muito mais rica e entusiasmante a exposição com maior diversidade de quadros.

Porém, voltando ao exemplo do barco, se o cenário até é o mesmo para todos os envolvidos, como é que pode surgir tanta diversidade de imagens entre os seus passageiros?

E por esta altura talvez já estejas a antever que, se a intenção for obter uma resposta pormenorizada, a tarefa ficará árdua. É que tentar elaborar uma explicação detalhada seria o equivalente a tentar descrever, num só texto, uma daquelas imagens dos jogos Onde está o Wally?

 Estás a imaginar? Minha nossa…

 Contudo, como este é um espaço onde pretendo manter a simplicidade de ideias, vou enumerar apenas alguns pontos, só para ficarmos com uma panorâmica do processo ocorrido.

Tomemos, por exemplo, o momento em que paraste o movimento do barco. E creio que vale a pena ter em conta que estamos apenas a referirmo-nos a uma ínfima fração no tempo. Um mero segundo… Um segundo em que, seja ele qual for, no instante em que páras o barco e escolhes focar-te na direção de um ponto qualquer do seu espaço, não é possível que encontres duas pessoas, a ocupar exatamente o mesmo lugar, ao mesmo tempo. Este facto, por si só, já impossibilita a existência de duas imagens minuciosamente iguais. Imagina isto aplicado a tooodo o barco…

Dependendo de ser dia ou noite, de as pessoas estarem a dormir ou acordadas, das diversas atividades que poderão estar a realizar, da forma como estarão distribuídas pelas diversas divisões – quem está no interior de uma divisão não tem o mesmo ponto de vista de quem está no convés, quem está na proa não tem o mesmo ponto de vista de quem está na popa, quem está na cabine não tem o ponto de vista de quem está na zona da copa (já deu para ficar com uma ideia, não é?) -, dependendo de um tanto, que nem vale a pena tentar quantificar neste texto, estamos claramente num mesmo barco mas… com uma infinidade de pontos de vista possíveis.

E por muito que a localização de uma pessoa esteja na proximidade de outra – o que reforçaria a ideia das condições serem mesmo iguais para ambas – mesmo assim, fosse qual fosse o momento, não ia haver duas imagens exatamente iguais. Sabes porquê? Porque uma pessoa pode escolher colocar o foco no tecto, outra no chão, uma na forma da janela, outra na paisagem que dá para ver através dela… Enfim, trata-se de uma lista cujos itens aumentam exponencialmente, em proporção com a atenção que pode ser dada aos mais variados pormenores.

Falando em pormenores, a dimensão deste texto indica-me que chegou o momento de levar este barco até ao próximo porto.

E enquanto ele segue viagem, pode ser que agora, após este breve exercício, te sejam mais percetíveis as bases que me levam a afirmar que realmente pedimos pelo que está a acontecer e que a tarefa para tentar enumerar os motivos exatos, pelos quais todos nós nos estamos a deparar com esta realidade, pode ser de tal modo exaustiva, que talvez nos seja mais gratificante considerá-la impossível.

Todavia, não é no impossível que pretendo que fiques. Por isso, antes de desembarcares, sugiro uma recordação que vale a pena guardares na tua bagagem. Afinal, algo que este barco nos ajuda a perceber é que, em qualquer momento, existe toda uma infinidade de quadros que podemos pintar.

Isto soa-te a restrições ou a possibilidades?

Hummm…

Em mim desperta aquele vibrante e, ao mesmo tempo, suave vislumbrar de que estes… podem ser grandes tempos!

Pela (re)conexão com o Amor que És, com leveza.

Susana Martinho

Conta a história do modo como queres ela que seja – 1.ª parte

Pois é! O meu foco para continuar a escrever sobre esta temática permanece, assim como algum sentimento de oposição em levar a ideia avante.

Creio que a minha resistência se baseia essencialmente em argumentos como: “Que evidências (daquelas bem notórias) tens tu neste momento na tua vida, que possas mostrar aos outros, para validar aquilo que andas para aqui a escrever?” e na constatação de que a minha resposta é: “Não tenho!”

Neste instante, não há nada que eu possa deixar aqui que te sirva – e a mim também – como prova física e palpável da ideia que estou a tentar transmitir. Aproveitando-se desse facto a resistência abarca território e tenta levar-me a consolidar, que é realmente estapafúrdia, esta ideia de querer utilizar a imaginação como um veículo para ajudar na concretização daquilo que pretendo vivenciar, naquilo que consideramos como sendo o mundo real.

Contudo, não teremos nós feito isso a vida toda? Não terão sido todas as situações que vivemos o resultado de histórias que, de algum modo, fomos contando a partir do nosso imaginário? E não reconheces tu a resistência como uma personagem deveras ativa e presente em muitas dessas histórias?

Todavia, e por muito que nos sintamos tentados, não façamos dela a vilã da nossa narrativa. Até porque isto não é uma história sobre vilões, vítimas ou heróis. E embora qualquer um destes papéis seja eventualmente desempenhado por cada um de nós em certos momentos da nossa vida, neste continuo novelo que é o movimento da Vida a criar-se e a expandir, a vasta história que é contada por todos os elementos, todas as células, todos os átomos e partículas, é precisamente acerca disso mesmo: criação… e expansão. E assim sendo, numa história com tal enredo, somente podemos falar de criadores.

Sim! Estou a afirmar que, naquela que é a história da minha vida, sou eu quem cria a minha realidade.

Naquela que é a história da tua vida, és tu quem cria a tua realidade.

E como seres viventes de vidas dentro da Vida, que criamos na Criação, creio que este é mesmo o papel mais incrível que poderíamos desempenhar.

E se evidências são necessárias – as tais materiais, físicas e palpáveis – não precisas de te movimentar mais do que uns milímetros – ou talvez nem precises de te mexer – tal é a proximidade a que elas estão de ti. Afinal, não há peça de roupa, mobiliário, eletrodoméstico, artefacto, ferramenta, filme, música, quadro, livro, escultura, o que quiseres nomear, que não tenha tido início precisamente no campo da imaginação. Numa intenção

Tudo no Universo começa com uma intenção e as situações que se manifestam nas nossas vidas, que acabam por se tornar naquilo a que chamamos realidade, não constituem exceção.

Posto isto, será que costumas tomar atenção às histórias que tens andado a contar? Mesmo que essas histórias residam apenas no campo do teu pensamento, será que tens prestado atenção à forma como te sentes, à medida que vais desenvolvendo o enredo daquilo que vais contando?

Daquilo que vais criando…

Sem pretender generalizar, creio que passamos demasiado tempo a contar histórias que não nos servem. E não nos servem nem no serviço que nos prestam, nem no seu tamanho diminuto no qual insistimos em caber. Um tamanho tão reduzido e minguado, em que cada um de nós se tenta apequenar e rotular, só porque, de algum modo, fomos incentivados a acreditar nas histórias que outros contaram. Ilusórias narrativas em que escolhemos não só acreditar, mas recontar, e que nos vão mantendo tão aquém do tamanho que realmente temos.

Do tamanho que realmente somos.

E nós somos grandes.

Enormes.

Do ponto de vista quântico, nós somos infinitos!

Por isso, prepara-te!

Prepara-te para te preparares em não insistir mais em caber naquilo que não te serve.

Prepara-te para estares pronto.

Prepara-te para estares pronto a começar a contar a tua história… exatamente do modo como queres que ela seja.

Pela Coragem de escolher o Caminho do Amor, com leveza.

Susana Martinho

Começa a contar uma nova história

Embora o início do ano já tenha ocorrido há algum tempo, e a temática das resoluções seja um mote muito presente no assinalar da passagem de um ano para o outro, o certo é que, apesar de só o estar a concretizar agora, esta questão do “contar uma nova história” tem sido o tema que tem marcado presença na minha mente desde os finais de Dezembro.

No que respeita a resoluções, se já na passagem de ano anterior tinha sido pouco dada ao seu estabelecimento, desta vez, simplesmente nem o fiz. Este facto deveu-se essencialmente à forma como interpreto o significado da palavra quando associada a esta festividade. Regra geral, neste contexto, a palavra “resolução” remete para algo que é necessário resolver, superar, ultrapassar…

Por norma, isso costuma ser sinónimo de estarmos diante daquilo que tendemos a considerar como um problema. E como aquilo em que nos focamos é para onde se direciona a nossa energia, se estivermos voltados para um problema, ou para algo que, na nossa perceção, precisa de ser resolvido ou superado, não nos conseguimos focar nas soluções. Como consequência, e apesar de já estarem à nossa disposição, não conseguimos aceder às respostas que tanto almejamos receber.

Posto isto, aquilo que fiz, e que se pode assemelhar à tomada de uma resolução, foi somente ter presente esta ideia do começar a contar uma nova história.

Parecia simples.

Parece.

É simples.

(É que é mesmo simples! 🙂 )

Contudo, e como se pode constatar pelo intervalo temporal, tenho-me deparado com uma dificuldade considerável em levar esta ideia avante…

Ou não estivesse eu a dar azo, e a proporcionar um tempo de antena deveras centralizado, à sempre tão presente companheira de jornada desta vida: a resistência.

É que essa bendita tagarela insiste em focar-se naquilo que classificamos como aspetos negativos! O que até pode ser tolerado com alguma leveza quando ela o faz com o que está a ocorrer no momento atual. Contudo, ela é engenhosa o suficiente para ter a capacidade de ir buscar os eventos já idos e nós, na atenção que lhes prestamos, trazemos o passado para o presente e fazemos do presente o passado.

E é assim que, talvez sem termos noção disso, continuamos a contar – e a viver – uma e outra vez, a mesma história… Pode mudar o espaço, pode mudar o tempo, podem mudar os personagens – os secundários, pelo menos -, mas a narrativa na qual eu sou ou, no teu caso, tu és, o personagem principal, continuará, seguramente, a seguir o mesmo fio condutor.

Já tiveste evidências disso, não já? É quase certo que sim!

À medida que avançamos pelo caminho da Vida vamos enraizando em nós esta tendência para nos focarmos naquilo que percecionamos como sendo a realidade, ao mesmo tempo que, gradualmente, permitimos que diminua o ênfase, que outrora atribuíamos, à nossa capacidade de imaginar. De sonhar

Porém, se o nosso verdadeiro trabalho é Ser, é Sonhar é que é mesmo -, não deveríamos estar precisamente a seguir a via inversa e a nutrir a nossa capacidade de traçar as vias, os enredos, as histórias, dos sonhos que queremos manifestar?

Se tivesses a certeza que contar a história, mesmo que seja só na tela da tua imaginação, é o suficiente para ficares mais alinhado com a concretização do teu sonho, não estarias disposto a fazê-lo?

Imaginar apenas.

É tão simples, não é?

E talvez seja precisamente devido a essa simplicidade que a voz da resistência – que para além de tagarelar adora complicar 🙂 – se erga de modo tão firme e nós, no esforço que estabelecemos por escutá-la, tenhamos o dom de nos posicionar sempre como o principal – e único – obstáculo entre o ponto da história onde estamos e a história que queremos realmente viver.

Portanto, mesmo que a resistência pareça determinada em te fazer crer que as circunstâncias estão todas reunidas para colaborar na validação da realidade como realmente real, ou mesmo que algumas pessoas te considerem demasiado fantasioso e coloquem diante de ti palavras como “fica lá com a fantasia e a pouca realidade”, mesmo assim: experimenta!

Abre, literalmente, as asas da tua imaginação. E à medida que ela levanta voo por entre as páginas daquele que é o guião da tua Vida, lembra-te que o poder de autoria é teu.

Só teu!

E que pouco importam as páginas rasgadas ou as palavras rabiscadas.

Tu és o autor.

E na criação daquela que é a tua maior obra tens o poder de começar a contar uma nova história.

Sempre que quiseres.

Diverte-te a fazê-lo! 😉

Pela Coragem de escolher o Caminho do Amor, com leveza.

Susana Martinho