“Pedi e recebereis”.
Acho que tenho pensado nesta expressão todos os dias.
Uma expressão que atravessou gerações e sobreviveu a centenas e centenas de anos. Uma expressão retirada de um livro antigo, que visava doutrinar, e embora inspirado na história de um homem e daqueles que consigo se cruzaram, está muito provido, na sua génese e difusão, de vários interesses – essencialmente económicos e com a finalidade de oprimir – de muitas outras pessoas.
Uma expressão retirada de um livro escrito numa época diferente da atual, onde as questões que se colocavam também eram diferentes daquelas que se colocam agora.
Uma expressão retirada de um livro, que para além de conter muitos outros livros dentro, também já foi sujeito às mais diversas traduções (quem conta um conto…).
E apesar de tudo o que acabei de enumerar, este livro retrata alguns factos aos quais, por ainda estarmos em rescaldo de época pascoal, se torna inevitável que eu lhes faça referência pois, para muitos de nós, ainda é nos seus relatos de opressão e de sofrimento – ainda é na cruz – que se coloca o foco durante estes dias.
Na cruz. No sacrifício. Na dor. No não há valor sem provação…
Contudo, sente a expressão: “Pedi e recebereis”.
Soa-te a sacrifício? Soa-te a sofrimento? Soa-te a provação?
Não, pois não? E que bom sinal é que assim seja!
É certo que o homem a quem estas palavras são associadas viveu numa época, em que algumas pessoas tinham tamanha desarmonia consigo mesmas, que crucificavam outras. Também é certo que o homem a quem estas palavras são associadas, por motivos que só a ele disseram respeito, acabou por ficar compatível com a manifestação desse evento na sua vida. E mesmo nesse momento, também lhe ficaram associadas estas palavras: “Pai, perdoa-lhes. Eles não sabem o que fazem.”
Talvez continuemos sem saber…
Provavelmente, na nossa grande maioria, ainda não sabemos que o reino dos céus está realmente entre nós. Dito de outro modo, talvez mais atual: o poder está em cada um de nós!
O poder… está em ti!
Alguém que conseguia afirmar que basta pedir para receber, sabia, indubitavelmente, do poder que cada um de nós poderia (ter) SER.
E tenho de fazer aqui um breve desvio. É que estou a escrever isto num dia em que já me cruzei com diversas fotos de cruxifixos no facebook e estou a dar por mim a pensar: este homem, numa altura em que cruxificavam pessoas, teve a coragem de exercer a sua essência e de tentar inspirar os outros para o real poder que existia neles. E o que é que alguns de nós continuam a fazer até hoje? Está certo que é em sentido figurado mas, também é certo que continuamos a escolher colocá-lo na cruz… Bolas…
A imagem da cruz embutida de contornos que representam uma figura humana, pintada de forma a evidenciar alguém que foi deveras maltratado, continua a ser o símbolo ao qual associamos este homem. Contudo, será que consegues olhar para este símbolo sem ativar em ti uma ideia, uma sensação, de alguém que está a sofrer?
Será que percebes que, caso te foques nesse símbolo desse modo, sentindo mesmo que seja apenas um resquício de uma ideia de sofrimento, quem está a carregar uma “cruz”, de peso variável e completamente desnecessária, és tu?
E se ativas em ti uma ideia de algo doloroso, diz-me, estás a conectar-te com a tua sensação de poder ou estás a afastar-te dela?
Muitos de nós fomos treinados para a ideia de que não há mérito sem sofrimento, porém, observa: costumas sentir-te poderoso quando estás a sofrer?
Creio que a tua resposta irá ao encontro daquilo que eu também considero. Se te focas em algo doloroso, sentes isso mesmo: dor. Desconforto. E consoante a dimensão desse desconforto, há uma grande probabilidade de, nesse momento, sentires a tua Vida como sendo um fardo. Pesado. Se te focas no peso da cruz, quem o carrega és tu!
E será que sabes o que é esse sentimento de desconforto realmente te indica?
O teor desagradável dessa sensação tem o dom maravilhoso de te mostrar que estás a ir na direção oposta de quem realmente ÉS. Estás a ir na direção oposta do teu poder.
E tu és um ser poderoso.
E sem pretender escolher por ti, creio que já vai sendo tempo…
Já vai sendo tempo de poisar as nossas “cruzes” e de deixarmos cair em desuso expressões como: “é a minha cruz” ou “que grande cruz que carrego”. Se não és tu quem as utiliza, quase de certeza que à tua volta alguém o faz. Não é? 🙂
Já vai sendo tempo de nos focarmos na verdadeira leveza do nosso Ser.
Já vai sendo tempo de, de cada vez que nos lembramos deste outro ser humano, no qual residia o mesmo poder que reside em ti, o fazermos pelos ensinamentos que ele nos tentou transmitir nos momentos em que estava conectado com a sua verdadeira energia.
Já vai sendo tempo de, embora em sentido figurado, o tirarmos da cruz também. E voltando às tais fotos dos cruxifixos que me apareceram, tenho de referir que houve um detalhe que captou a minha atenção. Aquilo que considerei interessante neles todos foi que, para além da madeira, os únicos elementos que lhes serviam de decoração eram: flores, fitas, corações e, acreditem ou não, um deles até duas laranjinhas (maravilhosas e já com os seus instantes de fama) acolhia.
Já ia sendo tempo…
Já vai sendo tempo de começarmos a perceber que basta realmente pedir para receber…
“Pedi e recebereis”.
O que é que estas palavras te transmitem?
A mim, pela minha atual perceção, esta expressão transmite uma ideia de facilidade. De leveza. Espelha uma fluidez de ordem natural das coisas… Mais do que isso, há Amor ali contido. Se me basta pedir, então “alguém/algo” está atento ao meu pedido. Se me basta receber, então “alguém/algo” está disposto a dar-me o que pedi.
E olhando para o panorama atual do mundo, talvez estejas a questionar: como é que pedimos por isto tudo?
Pois é! Para uns, vai soar contraditório. Para outros, vai fazer algum ou todo o sentido. O certo é que pedimos.
Pedimos.
Estamos a receber.
E mais está a caminho.
E mesmo assim, acredita – ou pode ser que até o estejas a sentir -, estes podem ser grandes tempos.
Pela (re)conexão com o Amor que És, com leveza.
Parece que minha tendência de escrever o texto seguinte em continuidade com o anterior se mantém! 🙂 Contudo, optei por deixar de colocar essa divisão no título. Soa-me melhor que cada texto tenha o seu próprio título, em vez de ser uma “parte” (1.ª, 2.ª, 3.ª …).
E por agora, na minha intenção de dar continuidade a este texto, espero que nos voltemos a cruzar por aqui. Obrigada pela visita e até breve!